Trecho de uma entrevista da série Da Pesquisa Brasileira. Leia completa
Precisamos entender o mundo onde vivemos se queremos continuar vivendo nele. As pessoas se esquecem que somos animais nessa teia que é a biota da Terra, só uma pequena parte desse aspecto físico do universo. Se não quisermos nos extinguir, precisamos compreender todos os aspectos que são tangíveis a nós (dadas as nossas limitações), para superarmos as dificuldades que a nossa espécie enfrenta e vai enfrentar cada vez mais no futuro, para sobreviver. A pesquisa fornece esse conjunto de informações. Mesmo não parecendo que cada informação em si seja relevante, está tudo conectado e precisamos de todas as peças possíveis para entender o mundo se quisermos sobreviver. O modelo atual de vida do Homo Sapiens, exaurindo e poluindo os recursos como se isso não fosse alterar o próprio ambiente onde vivemos, já se mostrou catastrófico. O crescimento descontrolado da população é, para mim, um dos principais problemas subjacentes a toda essa crise e eu não tenho visto ninguém abordando isso com a urgência merecida. Pode parecer idealista, mas sem a ciência e sem o conhecimento básico e aplicado sendo construído, revisto e expandido a cada dia, iremos nos extinguir, como qualquer outra espécie que já existiu.
Além desse propósito imediato, a pesquisa é o empreendimento humano que nos afasta mais da nossa animalidade. Imagina, somos animais capazes de explorar e criar explicações (mesmo que limitadas, mesmo que imperfeitas), sobre nós mesmos, sobre o ambiente em volta de nós. Somos capazes de fazer extrapolações sobre áreas tão distantes do universo que provavelmente nunca visitaremos (mas que conseguimos enxergar). Pensamos sobre o que não vemos, o que já existiu e o que já ocorreu, o que irá existir e o que irá ocorrer. Do ponto de vista pessoal, é uma forma fascinante de se viver.
Thaís Almeida é doutora e mestre em biologia vegetal pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduada em ciências biológicas pela mesma instituição. É pesquisadora e professora da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém.